Caso Atlas Quantum: entenda as práticas da empresa

Feb 27, 2023

O mercado de criptomoedas ainda gera muitas polêmicas entre os investidores brasileiros, sobretudo aos mais conservadores. E um dos motivos para isso sem sombra de dúvidas são os vários casos de fraude envolvendo Bitcoins e outras criptos. No Brasil, nenhum é mais absurdo e conhecido do que o da Atlas Quantum. 

A Atlas Quantum é uma empresa que trabalha com serviços de arbitragem de Bitcoin, por meio de um robô que supostamente traria ganhos concretos aos investidores. Em 2019, ela se envolveu em um grande escândalo, depois que vários investidores não conseguiram sacar os lucros de seus investimentos. 

De lá para cá, as dúvidas sobre a legalidade da empresa começaram a ficar ainda maiores. O que inicialmente parecia um negócio sólido e seguro, na verdade mostrou ser um grande esquema de pirâmide envolvendo um dos mercados de investimento mais nebulosos da atualidade, o de criptomoedas.

Mas, afinal de contas, como atuava a Atlas Quantum?

O caso da Atlas Quantum se encaixa no famoso esquema de pirâmide de Madoff, que ficou popular depois da quebra da bolsa de valores de 2008. Nele, ao invés das empresas oferecerem lucros mensais absurdos sobre investimentos, assim como as pirâmides tradicionais, elas captam clientes por meio de um negócio aparentemente plausível e confiável. 

A Atlas Quantum captava clientes por meio da arbitragem de Bitcoins: um robô supostamente fazia a compra de um título e a venda do mesmo por um preço bem mais alto. Sendo assim, o investidor só precisava depositar o seu dinheiro e esperar a magia acontecer para receber os seus lucros. 

Os investimentos traziam retorno por um certo tempo, assim como em todas as pirâmides financeiras, mas na medida em que o número de novos clientes começava a baixar, o esquema começava a ir pro buraco. Acontece que, depois de um tempo, investidores começaram a reclamar por não conseguirem sacar os seus lucros. 

Depois que os clientes deixaram de ser pagos, milhares de processos contra a Atlas Quantum começaram a correr na Justiça. A gota d’água para a desconfiança da empresa foi a divulgação de documentos que não conseguiram provar se o suposto robô de arbitragem da empresa realmente funcionava - dando ainda mais indícios do esquema de pirâmide. 

Atlas Quantum investia pesado em marketing com famosos 

Uma das principais características da Atlas Quantum para atrair investidores era o investimento pesado em marketing. Esse é um movimento comum das pirâmides de Madoff, porque ajuda a construir uma imagem de negócio seguro. Afinal de contas, se um famoso está divulgando a empresa é porque ela realmente é boa, não é mesmo? 

A Atlas Quantum era conhecida por realizar eventos e painéis falando sobre os seus serviços e sobre o mercado de criptomoedas. Nisso, ela chegou a investir em propaganda com famosos como Marcelo Tas, Cauã Reymond e até mesmo o youtuber e ex-deputado federal Arthur do Val. 

O nível de marketing da Atlas Quantum era tão grande que a empresa chegou a anunciar suas atividades na Globo. Tudo isso fez com que ela conseguisse captar muitos investidores. No entanto, quando deixou de permitir o saque por parte dos clientes, os rombos começaram a aparecer. 

Caso da Atlas Quantum segue na Justiça 

Quando começaram a surgir as denúncias contra a Atlas Quantum, depois que os clientes foram impedidos de sacar os seus lucros, a Comissão de Valores Mobiliários (CMV) declarou stop order para a empresa. Com isso, ela ficou proibida de ofertar títulos e/ou contratos de investimento coletivo e acabou fechando. 

A partir disso, mais pessoas entraram na Justiça alegando terem sido prejudicadas pela Atlas Quantum. As denúncias desencadearam em uma série de investigações por parte das autoridades, as quais identificaram um rombo total de mais de 2 bilhões de reais para os investidores. 

A essa altura do campeonato, o criador da Atlas Quantum, Ricardo Marques, já estava desaparecido. O sumiço do empresário contribuiu ainda mais para as suspeitas de um golpe, que vem sendo colocado em evidência. Recentemente, Marques foi encontrado em uma mansão perto de Barcelona, na Espanha. 

O fato é que o caso da Atlas Quantum segue correndo na Justiça, em diversas frentes. A própria empresa move um processo de R$ 3,2 bilhões contra a CVM, alegando ter sido prejudicada pela decisão de stop order. Já os vários investidores prejudicados estão processando a empresa por conta própria. 

Paralelo a isso, seguem as investigações por parte das autoridades. A Atlas Quantum foi alvo de uma investigação estadual pelas mãos da Polícia Federal (PF), que em um primeiro relatório, afirmou que a empresa “não causou prejuízo aos investidores”. Após muitas divergências, o caso foi retomado.

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